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"Não sei se os Europeus estarão predispostos a entregar aviões" à Ucrânia -Álvaro Vasconcelos

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Numa altura em que está quase a fazer um ano que Moscovo lançou a sua ofensiva na Ucrânia, o Presidente Zelensky saiu do seu país pela segunda vez desde o início do conflito e deslocou-se hoje a Bruxelas onde pediu mais armas aos seus aliados, depois de ter estado ontem em Londres e também em Paris onde recebeu garantias de apoio no seu esforço de guerra.

Durante o seu encontro ontem em Londres com o Primeiro-Ministro britânico, este último assegurou que o seu país vai formar pilotos de aviação ucranianos e deixou a porta aberta à entrega de aviões de combate à Ucrânia. Nesta quarta-feira também, aquando da sua passagem por Paris, o Presidente Macron e o chefe do executivo alemão vincaram a sua "intenção de acompanhar a Ucrânia rumo à vitória".

Estas declarações firmes de Paris e Berlim marcam um novo patamar na sua política, dado que há ainda alguns meses atrás mostravam-se muito mais prudentes relativamente à ajuda a fornecer a Kiev. Para Álvaro Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, esta inflexão prende-se com o facto de a guerra durar mais tempo do que se estava inicialmente à espera.

RFI: Ao que se deve a mudança de atitude de Paris e Berlim, a seu ver?

Álvaro Vasconcelos: No início da guerra, se nos lembrarmos bem, pensava-se que ia ser uma guerra curta e quando Zelensky conseguiu resistir em Kiev e que Putin teve que retirar as tropas, pensou-se que iriam haver negociações e que iria haver um acordo. O que a França tem repetido está certo. Todas as guerras acabam com um acordo diplomático, seja ele qual for. Pensou-se que isso ia ser rápido. Nessa altura, a França assumiu o papel que é historicamente o dela, de tentar criar ponte com a Rússia para esse acordo. Mas o que nós vimos é que esta guerra não tem uma solução rápida e que neste momento, para se chegar à paz, é preciso que a Ucrânia recupere o território que perdeu.

RFI: Os últimos passos dados são nomeadamente os compromissos de determinados países, nomeadamente da Alemanha, de entregar tanques 'Leopardo' à Ucrânia. Face a este novo patamar, pode-se pensar que a Rússia tem sido bastante comedida. A seu ver, porquê?

Álvaro Vasconcelos: O que é que a Rússia pode retaliar se pensarmos bem? A retaliação que a Rússia pode ter, seria agredir um Estado-membro da NATO e isso levaria à aplicação do artigo 5° do tratado do Atlântico Norte e a um envolvimento directo dos países da NATO no conflito. Isso seria devastador para a Rússia. O poder militar ocidental é muito superior ao da Rússia e o envolvimento da NATO no conflito levaria a uma de duas coisas: ou a derrota da Rússia ou a destruição da Rússia e da Europa e eventualmente dos Estados Unidos num conflito nuclear. Aí a dissuasão nuclear tem funcionado. O que a Rússia pode fazer como retaliação ao apoio militar que é dado à Ucrânia é um patamar que levaria a um conflito directo e eventualmente a uma guerra nuclear. Tem havido uma prudência da parte europeia para não provocar essa escalada. Mesmo o tipo de armamentos que têm sido dados no início e até há bem pouco tempo, eram armamentos que eram apenas defensivos. Neste momento, estão a ser dados equipamentos que são ofensivos, mas ofensivos para serem utilizados no território ucraniano. Portanto, essa prudência não vem só da Rússia, vem também dos países da NATO.

RFI: Durante esta digressão, Zelensky obteve por parte do Primeiro-ministro britânico o compromisso de haver formação dos militares ucranianos na pilotagem de caças modernos e Rishi Sunak também não rejeitou completamente a ideia de -a prazo- também entregar aviões de combate.

Álvaro Vasconcelos: Isso é a etapa actual das exigências da Ucrânia. Tendo obtido os tanques que neste momento são o essencial, porque podem ser entregues já, são de mais fácil treino e podem permitir levar a ofensiva no Donbass -e em Bakhmut em particular- e retomar a iniciativa no conflito, agora Zelensky só fala de aviões e fez várias referências a isso no Reino Unido e certamente nas conversas com Macron e Scholz em Paris. Não sei se os Europeus estarão predispostos a entregar aviões. Não penso que seja agora. Penso que os europeus estarão a dizer à Rússia que se ela continuar numa ofensiva e que se ela fizer uma nova grande ofensiva para tentar capturar Kiev, que haverá um salto no conflito e que, nessa altura, a hipótese de entregar aviões estará na mesa.

RFI: Tem-se falado muito ultimamente na hipótese de a Rússia estar a preparar uma grande ofensiva para as próximas semanas. Será que a Rússia não estará tentada em apanhar todos de surpresa e avançar esta ofensiva, tanto mais que a Ucrânia ainda não recebeu todo o equipamento e que ainda estamos no inverno?

Álvaro Vasconcelos: O inverno favorece quem defende. Portanto, não me parece que a Rússia faça uma ofensiva no inverno. Teria que ser no fim do inverno ou no começo da primavera, possivelmente, é o que se diz. Uma grande ofensiva russa não me parece muito provável porque aquela que eles fizeram para tomar Kiev fracassou completamente. Eles devem saber que esta também fracassaria. Não me parece plausível que a Rússia tenha capacidade para conquistar Kiev. Quando se fala de uma grande ofensiva, é disso que se fala, tanto mais que hoje o exército ucraniano, é verdade que está mais exausto pelo conflito, mas está melhor treinado e muito melhor armado do que estava há um ano. Creio que já chegou à conclusão de que não pode conquistar Kiev mas continua a pensar que pode conquistar o Donbass.

RFI: Da mesma forma que se diz que a Rússia não tem condições para ganhar esta guerra, será que a Ucrânia pode vencer completamente este conflito? Será que no final de tudo isto, não se deverá discutir a repartição desse território?

Álvaro Vasconcelos: Há um cenário que é o cenário de que a Rússia controla todo o Donbass e que o governo de Kiev aceita que perdeu uma parte significativa do seu território. Não creio que haja algum governo de Kiev que se possa manter no poder-se aceitar, depois de um ano de conflito e tantos mortos ucranianos, tanta destruição, perder uma parte do território. Esse governo cairia no dia seguinte. Esse acordo de paz não me parece possível. O outro será Kiev reconquistar o que perdeu desde Fevereiro do ano passado. Isso é possível. A Rússia encontraria uma forma de considerar uma vitória o que tinha sido uma derrota, mas Kiev não reconquistaria os territórios que tinha perdido em 2014, ou seja a Crimeia e parte do Donbass. Eu não sei se há uma terceira hipótese, mas essas duas hipóteses que são as mais prováveis continuam na mesa das negociações. Kiev reconquistar o território que perdeu em 2014 inclusive a Crimeia, penso que só seria possível se Putin caísse do poder. Parece-me o menos provável dos cenários. Parece-me que o mais provável é Kiev reconquistar uma parte do território do Donbass que perdeu este ano e eventualmente haver uma situação de nem paz nem guerra que dure muito tempo sem Kiev aceitar o que perdeu e a Rússia continuar a considerar que pode reconquistar parte do território.

 

 

 

 


Fonte:da Redação e da RFI
Reeditado para:Noticias do Stop 2023
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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